domingo, 18 de outubro de 2009

"Nova Formação, Nova Aprendizagem e Conhecimento”, por Roberto Carneiro.

O autor do artigo reflecte sobre os três grandes paradigmas da educação e da pedagogia que desde o século XX até ao presente, têm condicionado os processos de ensino-aprendizagem e também, sobre o potencial transformador do e-Learning e da Formação a Distância trazido pelas tecnologias digitais e interactivas de informação e de comunicação e da sua ligação às organizações.

Para a “teoria associativista” de Thorndike, a aprendizagem assentava na separação do estudo e da prática: na qual se estudava por associação de parcelas de conhecimento autónomo, e pela realização de práticas repetitivas de operações (“Drill and practice”), acompanhada de reforços - positivos ou negativos - para as boas ou más práticas, respectivamente. Os professores são os sujeitos centrais do processo de ensino-aprendizagem, considerando-se os alunos pessoas passivas e meras “máquinas” que armazenam conhecimento por repetição e exercício, num processo de “aprender-ensinado”.

Por oposição ao carácter “passivo” e “mecanicista” da teoria de Thorndike, surgem as pedagogias “activas”, centradas no aluno e nos processos de “descoberta” dos saberes.

Aos formandos espera-se toda a iniciativa e esforço de aprendizagem e ao professor-tutor competiria o estímulo à aprendizagem e a disponibilização dos materiais apropriados para que os formandos pudessem organizar, de forma independente, as suas próprias descobertas de conhecimento.

Neste sentido, formulam-se teses, nomeadamente as denominadas teses construtivistas de aprendizagem (Vygostky, Piaget, Newell et al.) nas quais se defende que o conhecimento é construído por cada pessoa e que a aprendizagem se fundamenta na construção de “sentido”, ou seja, o acto de aprender é sempre interpretativo e inferencial, envolvendo processos activos de raciocínio e de intensa “conversação” do formando com o contexto “aprendente” que o rodeia, num processo de “aprender sem memória cognitiva”.

A terceira nova abordagem aos fenómenos da educação e da pedagogia emerge a partir do avanço da ciência cognitiva, na qual é evidenciado que “as capacidades pessoais de aprendizagem e de resolução de problemas se encontram fortemente correlacionadas com o que cada um já sabia”.

O denominado construtivismo cognitivo que toma o conhecimento como alavanca central da nova formação e da nova aprendizagem, suporta teórica e empiricamente que o conhecimento anterior é indispensável à aquisição de novo conhecimento e, também, a de que nenhuma aprendizagem pode ocorrer sem referência a informação, dados ou saberes já adquiridos.

Dito de outro modo, o mecanismo pelo qual cada pessoa constrói saberes recorre a “objectos de conhecimento” disponibilizados no presente mas, sobretudo, a formas de conhecimento anteriormente adquirido e aos processos mentais envolvidos nessas experiências passadas – e bem sucedidas – de aprendizagem.

Mas a construção de saberes por uma pessoa, parece necessitar da demonstração de aptidões “metacognitivas” de auto-regulação do esforço de aprendizagem, de gestão das relações interpessoais, ou seja, de capacidades de autogestão dos conhecimentos (novo e velhos) e dos processos cognitivos.

Com o advento das tecnologias digitais e interactivas de informação e de comunicação (TIC), o mundo do e-Learning e da Formação a Distância encerra um grande potencial transformador do paradigma pedagógico ainda dominante.

A nova geração das tecnologias de informação e de comunicação podem ser encaradas para além de ferramentas potentes de tratamento, processamento e transmissão de dados ou de plataformas de distribuição maciça de informação e de conhecimento codificado; como instrumentos “construtivistas” da aprendizagem, desde que sejam adequadamente exploradas nas suas vertentes “relacional” e “motivacional”.

As capacidades de aprendizagem de “aprender assistido” ou “aprender em comunidade”, para além do “aprender autónomo”, podem ser potencializadas com a integração destas novas “tecnologias pedagógicas” se e quando aproveitadas numa perspectiva comunitária e relacional, numa meta-cognição dinâmica exercida sobre corpus variáveis de saberes passados, actuais e futuros(?).

Para o autor a sabedoria das sínteses assume a liderança sobre a análise fragmentária das partes, as pessoas aprendentes passam a integrar comunidades de sujeitos, a gestão do conhecimento emerge da participação, a aventura da aprendizagem é indissociável da densidade em capital social e cultural do meio onde ela se opera, permitindo que a inteligência humana criativamente continue a lidar com a surpresa, a incerteza, a variedade, a complexidade, a invenção e a generatividade.

Ao salto de qualidade que se postula para a intervenção humana na gestão dos processos cognitivos corresponde um nível idêntico de exigência quanto ao comportamento das organizações.

Este novo paradigma pode e deve ser aplicável às organizações, entendidas enquanto comunidades e prática, que evoluem por aprendizagem, cuja qualidade é medida pela inteligência organizacional que forem capazes de convocar no confronto com a mudança e com os imperativos estratégicos de inovação que lhes facultará a diferenciação competitiva.