sábado, 12 de dezembro de 2009

Conectivismo

Conectivismo
O “Connectivism” ou “Network learning” pode ser entendido como um novo quadro teórico para a compreensão da aprendizagem, para a “era digital”, em contraste com as teorias behavioristas, construtivistas e cognitivistas. George Siemens iniciou, em 2004, a enunciação dos princípios teóricos, seguido do célebre e polémico artigo intitulado “Connectivism: Learning as Network Creation” (2005), complementado por um outro artigo de Stephen Downes “An Introduction to Connective Knowledge” (2005).
O paradigma “conectivista” foi sistematizado por Siemens no livro Knowing Knowledge (2006).
George Siemens é professor e director do Centro de Tecnologia da Aprendizagem da Universidade de Manitoba (Canadá). O seu interesse pela exploração das possibilidades pedagógicas das novas tecnologias da informação e comunicação levou-o, juntamente com Stephen Downes do Institute for Information Technology's e-Learning Research Group (Canadá), a propor o conectivismo como um novo paradigma de ensino-aprendizagem.
Em síntese, o que George Siemens (2005) argumenta no seu modelo conectivista é que a aprendizagem ocorre quando o conhecimento é despoletado pelas “interacções”, numa comunidade de aprendizagem, em qualquer momento e lugar, numa configuração temporária “em rede de informações” e através de “conexões”.
George Siemens constatou que o conhecimento se tornou mais célere, que os aprendentes se encontram agora em qualquer parte (por diferentes áreas), que a aprendizagem informal passou a ser mais significativa (não se limita à escola mas estende-se à comunidade e redes pessoais) e que a aprendizagem como processo contínuo levam a que o “saber como” e o “saber o quê” sejam suplantados pelo “saber onde” – o saber de onde se encontra o conhecimento de que se precisa.
As três teorias do conhecimento mais conhecidas (behavioristas, construtivistas e cognitivistas) assentam numa espécie de pressuposto em que a aprendizagem tem que ocorrer dentro da pessoa, não abordando aquela que ocorre fora da pessoa (armazenada e manipulada através da tecnologia), como acrescenta George Siemens com a teoria do conectivismo.
T3 – Catarina, Pedro, Sérgio, Vânia - 23Nov.09 curso e-formadores: Desafio Opcional
Uma rede pode ser definida, simplesmente, como conexões entre entidades: redes de computadores, redes de influência e poder e redes sociais; e todas funcionam segundo o princípio de que as pessoas, grupos, sistemas, nós, entidades devem ser conectadas para criar um todo integrado.
Para Siemens (2004) "uma Comunidade de aprendizagem é um nó de conhecimento conectado a uma rede de outros nós de distintas áreas de interesse, onde há a possibilidade de interacção, partilha de recursos e de pensamento e conversação conjunta".
Os nós podem ser temas, ideias, conhecimentos, comunidades,…, que se especializam numa determinada área do saber e adquirem reconhecimento por isso, nas conexões estabelecidas com outras comunidades de aprendizagem.
“Os nós podem ser de tamanho e importância variável, dependendo da concentração da informação e do número de indivíduos que navegam num determinado nó” (Downes, 2008).
Albert-László Barabási (2002: 106), afirma que “os nós competem por conexões, porque as ligações representam a sobrevivência num mundo interconectado” em que a atribuição de valor a certos nós em detrimento de outros, potencializa conexões adicionais, e daí a usa importância no contexto da aprendizagem.
Deste modo, a aprendizagem é considerada como um processo – cognitivo e afectivo – em que se estabelecem novas conexões entre nós já existentes de conhecimento, e/ou onde se criam novos nós com novos conhecimentos que têm significado para uma determinada comunidade de aprendizagem, podendo esse conhecimento ser armazenado numa variedade de formatos digitais.
O modelo teórico inicial de Siemens (2004) diferencia os conceitos de dado, informação, conhecimento e significado:
• Dado: elemento básico (raw element)
• Informação: dado com inteligência aplicada;
• Conhecimento: informação contextualizada e interiorizada;
• Significado: compreensão das “nuances”, do valor e das implicações do conhecimento.
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Nas sociedades ditas modernas, constata-se que a informação disponibilizada muda a um ritmo elevado, bem como, a validade e a precisão do que é transmitido. Assim, parece ser relevante que se seja capaz de descobrir novos contributos para a formulação de um determinado conhecimento (aprendizagem) e, deste modo, ajustarmo-nos às mudanças.
Para Siemens (2008: §5), "a competência para se saber é mais relevante do que aquilo que realmente é conhecido", ou seja, a competência para se decidir baseado na informação adquirida, é considerada parte integrante do processo de aprendizagem.
Neste sentido, o modelo conectivista realça duas competências que contribuem para a aprendizagem: a competência para se perseguir a informação; e a competência para se filtrar a informação útil.
Implicações /Aplicações
O conectivismo também pode ser considerado nos processos de gestão do conhecimento, nas organizações. O conhecimento incorporado numa base de dados dinâmica, pode permitir a conexão das pessoas certas nos contextos adequados, de modo a que o conhecimento disponibilizado, por diversos colaboradores da organização, possa ser aproveitado para a aquisição de novos saberes, com impacte exponencial nas aprendizagens individuais e nas práticas organizacionais.
Também as redes sociais, têm possibilitado a exploração de novos entendimentos sobre a aprendizagem na era digital. Essa amplificação da aprendizagem e do conhecimento através da extensão de uma rede pessoal é a síntese do conectivismo. Dentro de uma rede social, são as pessoas com melhores conexões ou vínculos fortes que são capazes de estimular e manter o fluxo do conhecimento.
A noção de conectivismo tem implicações em todos os aspectos da nossa vida, principalmente no da aprendizagem, mas existem outros domínios de aplicação também relevantes, a saber:
• Gestão e liderança de grupo e de organizações;
• Gestão de negócios (a capacidade de uma organização de incentivar, cultivar e sintetizar os impactos de visões diferentes é crítica para a sobrevivência na economia da informação)
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• Brainstorming (tempos diferentes com pontos de vista diferentes são uma estrutura crítica para a exploração completa de ideias);
• Inovação (a maioria das ideias revolucionárias de hoje, existiram um dia como ideias alternativas);
• Investimento nas bolsas (a informação financeira útil, no tempo);
• Comunicação social (desafio imposto pelo fluxo aberto, em tempo real e de duas vias dos blogs, twitters, wikis, youtube,…);
• Educação/Formação por tutoria;
• Oferta de competências no mercado de emprego;
• Gestão de redes sociais com conexões entre entidades para se criar um todo integrado.
• …….
Em síntese, os princípios do conectivismo são os seguintes:
1. Aprendizagem e conhecimento apoiam-se na diversidade de opiniões.
2. Aprendizagem é um processo de conexão de nós especializados ou de fontes de informação.
3. Aprendizagem pode residir em dispositivos não-humanos.
4. A capacidade para saber é mais importante do que aquilo que se sabe.
5. A manutenção das conexões é necessária para a aprendizagem contínua.
6. A competência para se identificar conexões entre ideias e conceitos é uma capacidade fundamental.
7. A actualização dos conhecimentos é vital na aprendizagem.
8. A tomada de decisão é, por si só, um processo de aprendizagem.
O conectivismo tem sido contestado enquanto novo modelo teórico de aprendizagem da era digital, mas desde a sua apresentação em 2004 na blogosfera, tem permitido o debate de ideias e de novas perspectivas sobre o ensino e a aprendizagem para o século XXI.
George Siemens observa que se passou de uma época em que o conhecimento se media em décadas para outra em que se mede em meses e anos. A mobilidade dos aprendentes (por diferentes áreas), o crescente impacto da aprendizagem informal (não se limita à escola mas
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estende-se à comunidade e redes pessoais), a aprendizagem como processo contínuo levam a que “saber como” e o “saber o quê” sejam suplantados pelo “saber onde” – o conhecimento de onde se encontra o conhecimento de que se precisa. As três teorias assentam numa espécie de dogma: a aprendizagem ocorre dentro da pessoa, não abordando aquela que ocorre fora da pessoa (armazenada e manipulada através da tecnologia).
Referências
BARABÁSI, Albert. L. (2002) . Linked: The New Science of Networks. Cambridge: MA, Perseus Publishing.
DOWNES, Stephen. (2005). An introduction to connective knowledge. Stephen’s Web.
Acedido em 27 Out. 2009, via Internet pelo endereço electrónico
http://www.downes.ca/cgi-bin/page.cgi?post=33034
ELLIOTT, Bobby.(2009). E-PEDAGOGY: Does e-learning require a new approach to teaching and learning?. SCOTTISH QUALIFICATIONS AUTHORITY
Acedido em 28 Out. 2009, via Internet pelo endereço electrónico
http://www.scribd.com/doc/932164/E-Pedagogy
KOP, Rita & HILL, Adrian. (2008). Connectivism: Learning theory of the future or vestige of the past?. The International Review of Research in Open and Distance Learning, Vol 9, N.3
Acedido em 27 Out. 2009, via Internet pelo endereço electrónico
http://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/view/523/1103
Siemens, G. (2008). Description of connectivism.
Acedido em 27 Out. 2009, via Internet pelo endereço electrónico http://www.connectivism.ca/about.html
SIEMENS, George (2005, August 10). Connectivism: Learning as Network Creation. e-Learning Space.org website.
Acedido em 27 Out. 2009, via Internet pelo endereço electrónico
T3 – Catarina, Pedro, Sérgio, Vânia - 23Nov.09 curso e-formadores: Desafio Opcional
http://www.elearnspace.org/Articles/networks.htm
SIEMENS, George (2004). Conectivismo: Uma Teoria de Aprendizagem para a Idade Digital. Acedido em 27 Out. 2009, via Internet pelo endereço electrónico
http://www.webcompetencias.com/textos/conectivismo.htm
http://maresta.wordpress.com/2007/02/27/conectivismo-%E2%80%93-uma-teoria-de-aprendizagem-para-a-idade-digital/

domingo, 18 de outubro de 2009

"Nova Formação, Nova Aprendizagem e Conhecimento”, por Roberto Carneiro.

O autor do artigo reflecte sobre os três grandes paradigmas da educação e da pedagogia que desde o século XX até ao presente, têm condicionado os processos de ensino-aprendizagem e também, sobre o potencial transformador do e-Learning e da Formação a Distância trazido pelas tecnologias digitais e interactivas de informação e de comunicação e da sua ligação às organizações.

Para a “teoria associativista” de Thorndike, a aprendizagem assentava na separação do estudo e da prática: na qual se estudava por associação de parcelas de conhecimento autónomo, e pela realização de práticas repetitivas de operações (“Drill and practice”), acompanhada de reforços - positivos ou negativos - para as boas ou más práticas, respectivamente. Os professores são os sujeitos centrais do processo de ensino-aprendizagem, considerando-se os alunos pessoas passivas e meras “máquinas” que armazenam conhecimento por repetição e exercício, num processo de “aprender-ensinado”.

Por oposição ao carácter “passivo” e “mecanicista” da teoria de Thorndike, surgem as pedagogias “activas”, centradas no aluno e nos processos de “descoberta” dos saberes.

Aos formandos espera-se toda a iniciativa e esforço de aprendizagem e ao professor-tutor competiria o estímulo à aprendizagem e a disponibilização dos materiais apropriados para que os formandos pudessem organizar, de forma independente, as suas próprias descobertas de conhecimento.

Neste sentido, formulam-se teses, nomeadamente as denominadas teses construtivistas de aprendizagem (Vygostky, Piaget, Newell et al.) nas quais se defende que o conhecimento é construído por cada pessoa e que a aprendizagem se fundamenta na construção de “sentido”, ou seja, o acto de aprender é sempre interpretativo e inferencial, envolvendo processos activos de raciocínio e de intensa “conversação” do formando com o contexto “aprendente” que o rodeia, num processo de “aprender sem memória cognitiva”.

A terceira nova abordagem aos fenómenos da educação e da pedagogia emerge a partir do avanço da ciência cognitiva, na qual é evidenciado que “as capacidades pessoais de aprendizagem e de resolução de problemas se encontram fortemente correlacionadas com o que cada um já sabia”.

O denominado construtivismo cognitivo que toma o conhecimento como alavanca central da nova formação e da nova aprendizagem, suporta teórica e empiricamente que o conhecimento anterior é indispensável à aquisição de novo conhecimento e, também, a de que nenhuma aprendizagem pode ocorrer sem referência a informação, dados ou saberes já adquiridos.

Dito de outro modo, o mecanismo pelo qual cada pessoa constrói saberes recorre a “objectos de conhecimento” disponibilizados no presente mas, sobretudo, a formas de conhecimento anteriormente adquirido e aos processos mentais envolvidos nessas experiências passadas – e bem sucedidas – de aprendizagem.

Mas a construção de saberes por uma pessoa, parece necessitar da demonstração de aptidões “metacognitivas” de auto-regulação do esforço de aprendizagem, de gestão das relações interpessoais, ou seja, de capacidades de autogestão dos conhecimentos (novo e velhos) e dos processos cognitivos.

Com o advento das tecnologias digitais e interactivas de informação e de comunicação (TIC), o mundo do e-Learning e da Formação a Distância encerra um grande potencial transformador do paradigma pedagógico ainda dominante.

A nova geração das tecnologias de informação e de comunicação podem ser encaradas para além de ferramentas potentes de tratamento, processamento e transmissão de dados ou de plataformas de distribuição maciça de informação e de conhecimento codificado; como instrumentos “construtivistas” da aprendizagem, desde que sejam adequadamente exploradas nas suas vertentes “relacional” e “motivacional”.

As capacidades de aprendizagem de “aprender assistido” ou “aprender em comunidade”, para além do “aprender autónomo”, podem ser potencializadas com a integração destas novas “tecnologias pedagógicas” se e quando aproveitadas numa perspectiva comunitária e relacional, numa meta-cognição dinâmica exercida sobre corpus variáveis de saberes passados, actuais e futuros(?).

Para o autor a sabedoria das sínteses assume a liderança sobre a análise fragmentária das partes, as pessoas aprendentes passam a integrar comunidades de sujeitos, a gestão do conhecimento emerge da participação, a aventura da aprendizagem é indissociável da densidade em capital social e cultural do meio onde ela se opera, permitindo que a inteligência humana criativamente continue a lidar com a surpresa, a incerteza, a variedade, a complexidade, a invenção e a generatividade.

Ao salto de qualidade que se postula para a intervenção humana na gestão dos processos cognitivos corresponde um nível idêntico de exigência quanto ao comportamento das organizações.

Este novo paradigma pode e deve ser aplicável às organizações, entendidas enquanto comunidades e prática, que evoluem por aprendizagem, cuja qualidade é medida pela inteligência organizacional que forem capazes de convocar no confronto com a mudança e com os imperativos estratégicos de inovação que lhes facultará a diferenciação competitiva.